



Em vez de autobiografia, Boris Berenstein prefere chamar este livro de caderno de memórias. É a forma como foi escrito. Seu alicerce está nas lembranças, mais remotas e atuais, do filho, pai, avô, judeu, médico, empresário, visionário, articulador… do homem que sempre desempenhou múltiplos papéis e tem muita história para contar. A começar pela dos seus pais, Pola e Leon. Ela, uma sobrevivente do Holocausto. Ele, um soldado romeno. Juntos, enfrentaram uma verdadeira odisseia ao deixar a Europa arrasada pela Segunda Guerra Mundial, fugindo da tirania instalada pelo regime soviético sob a Cortina de Ferro.
Encontraram no Recife o seu novo lugar no mundo. Na América que lhes coube, fincaram novas raízes. Mais precisamente no bairro da Boa Vista, em meio à comunidade judaica formada por outras dezenas de famílias refugiadas na área central da capital pernambucana. Foi ali que Boris nasceu e cresceu.
Nesta narrativa em tom de conversa com o leitor, ele relata como a sólida base familiar e comunitária lhe permitiu ampliar a visão de mundo e ganhar asas para alargar horizontes. Escolheu a medicina, foi escolhido pela radiologia, fundou a clínica que até hoje ostenta o seu nome. Prosperou e se envolveu em vários outros projetos. Não sem adversidades e reviravoltas. Contornou e venceu cada uma delas. Soube recomeçar do zero. Sempre com coragem e determinação.
Com uma linguagem simples e direta, Boris Berenstein refaz, neste seu caderno de memórias, os caminhos que o levaram a construir a marca com a melhor reputação da história da medicina diagnóstica de Pernambuco. Também detalha como contribuiu para a profissionalização da governança e da sucessão nas empresas familiares, inclusive na sua, por meio da atuação em iniciativas como o Projeto Rumo e a Escola F., onde esteve ao lado dos consultores da AJA, Antônio Jorge Araújo e Elane Cabral.
Realizado com o seu legado, Boris não pensa em parar e apresenta os planos para o futuro. Após colher a plenitude de quem semeou a terceira idade com sabedoria, agora quer regar a longevidade.
O texto ainda descreve passagens da sua vida pessoal e profissional até então mantidas entre quatro paredes. A companheira de todas as horas, Mary Louise Berenstein, é uma das presenças mais marcantes nestas páginas, inclusive assumindo a narração em alguns momentos emocionantes.
Por muitos motivos, esta não é uma autobiografia convencional. Sua materialização contou com a escrita desta jornalista e aspirante a escritora, honrada em ter ajudado a revelar o inspirador raio-X de Boris Berenstein.
Mona Lisa Dourado